quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Americanah

Creio que muitos de nós conhecemos Chimamanda Ngozi Adichie por conta de seus famosos TEDs "O perigo de uma única história" e "Sejamos todos feministas". Nascida na Nigéria em 1977, ela tem três romances publicados (todos lançados no Brasil pela Companhia das Letras), um livro de contos e a transcrição de seu discurso sobre feminismo (também pela Companhia das Letras). "Americanah" foi seu primeiro romance que tive a oportunidade de ler e já me considero admiradora da obra de Chimamanda. 

"Americanah" é um romance longo, mas com uma narrativa aparentemente simples. Ifemelu é uma mulher nigeriana que mora nos Estados Unidos há mais de uma década, e em dado momento decide retornar a seu país de origem. A premissa é curiosa, visto que em vários outros livros é justamente o contrário, a pessoa sai de sua terra natal em busca de oportunidades melhores em outros lugares. 

O livro parte desse momento em que Ifemelu decide voltar para a Nigéria. Ela está em um salão fazendo tranças em seu cabelo, se preparando para partir dos Estados Unidos e começa a retomar seu passado, sua infância, seu namoro de adolescência com Obinze, bem como uma leve pincelada na história da Nigéria. Indo e voltando no tempo, ela fala de sua família, das dificuldades de se mudar para a América, da sua relação com amigos, namorados e empregadores.

Como dito acima, o enredo é simples, mas aos poucos a autora discorre sobre racismo, sobre ser mulher em um país estranho, sobre gordofobia e sobre demais assuntos incômodos (nas palavras dela), mas que precisam ser discutidos. Ifemelu, em determinado ponto da história, cria um blog para narrar experiências suas ou observadas por ela, a respeito de racismo. Tal blog se torna um sucesso e ela passa a viver exclusivamente dele. No livro temos alguns dos posts fictícios que são ótimos debates. 

"Americanah" fala sobre ser estrangeira, sobre não se sentir em casa no novo país, sobre não se reconhecer no país em que nasceu. O livro também trata da dificuldade que as pessoas de países de terceiro mundo têm para conseguir cidadania e arrumarem bons empregos nos Estados Unidos e em alguns países europeus.

A leitura é ótima e prende a atenção. Do meio para o final a narrativa perde um pouco do fôlego, mas nada que prejudique o brilho e o valor do livro. Algumas pessoas não gostaram do final. Eu particularmente gostei, mesmo acostumada com finais trágicos ou pouco costumeiros, foi bom me deparar com um final mais "clássico".

É um livro que fica na cabeça. É uma leitura essencial para todos, principalmente para aqueles que acham que não existe mais racismo no mundo e que negros se vitimizam. As dificuldades que as pessoas negras enfrentam são infinitamente mais profundas, e Chimamanda fala disso didaticamente em "Americanah". 


Já está aberto o tópico para discussão em nosso fórum.

3 comentários:

  1. Li Americanah no inicio do ano passado e me apaixonei pela escrita da Chimamanda. Esse ano vou ler Meio Sol amarelo, já estou bem ansiosa. Eu acho que Americanah tem alguns problemas e fica um tanto repetitivo na segunda metade, mas mesmo assim foi uma leitura deliciosa e que me marcou demais.
    Tenho um carinho enorme pela autora

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    1. A segunda parte é um pouco enrolada mesmo, mas não tirou meu amor pelo livro.
      Pretendo ler os outros livros dela ainda nesse ano e postar resenha por aqui. :)

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  2. Olá! Gostei muito da resenha. Ela dá um bom panorama das principais partes do livro. Este livro é muito interessante para a reflexão do que é ser mulher e negra

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